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ChatGPT: até que ponto a ferramenta pode ser útil no contexto empresarial?

Por David de Paulo Pereira*

A popularização do ChatGPT em tempo tão curto não é, ao meu ver, uma surpresa, atingindo 1 milhão de usuários em 5 dias. A plataforma é simples, possui uma versão gratuita e a experiência para o usuário tende a ser bem agradável,  rápida e quase sempre precisa. Os chatbots alimentados por inteligência artificial não são novos, mas o ChatGPT chama a atenção por não apenas manter uma conversa simulando bem o ser humano com o usuário, independentemente do idioma de interação, mas também admite erros, corrige falsas suposições, responde perguntas com detalhes e desenvolve códigos de programação em diferentes linguagens.

Tecnologias emergentes, como AIoT e automação inteligente, com certeza farão bom uso deste tipo de plataforma que possui APIs para interação. Os estudos ISG Provider Lens™, dos quais sou autor por meio da parceria TGT Consult/ISG, mostram claramente que o mercado serviços relacionados a consultoria, implementação e serviços gerenciados de Internet das Coisas evoluiu e amadureceu significativamente desde a publicação do Plano Nacional de IoT. Além disso, o setor de intelligent automation continua a ter os motivadores clássicos com foco em maior satisfação do cliente, prazos de entrega mais curtos, locais de trabalho mais atraentes e maior qualidade de dados e processos, mas também está preocupado em encontrar respostas para as situações adversas que aumentam rapidamente, como por exemplo nas cadeias de abastecimento.

Para executivos e líderes de empresas, o ChatGPT traz funcionalidades como o auxílio na elaboração de planos de negócios, o que nem sempre é fácil, principalmente no contexto de pequenas e médias empresas, estudos de mercado, edição e revisão de textos, contratos e atendimento ao seu cliente final e produção de peças de marketing. No contexto empresarial, o ChatGPT também pode ser utilizado para criar, com linguagem natural, interfaces de conversação, processar consultas e fornecer respostas relevantes, o que pode ser útil na automação de tarefas que exigem raciocínio e tomada de decisão semelhantes aos humanos – como suporte ao cliente, agendamento e processamento de pedidos, entre outros.

Aliás, a personalização é um ponto forte do uso do ChatGPT em negócios, pois a plataforma foi programada usando uma técnica chamada Reinforcement Learning from Human Feedback, e as letras GPT em seu nome significam Generative Pre-Trained Transformer, que é uma IA que usa seu conhecimento existente para responder à perguntas. Por isso, o ChatGPT tem a capacidade de desafiar uma premissa falsa em um questionamento. Em um teste, respondendo à pergunta “Conte-me sobre quando Cabral veio para o Brasil em 2015”, o bot respondeu: “Pedro Álvares Cabral morreu em 1520, então ele não poderia ter vindo para o Brasil em 2015”.

Com isso, o ChatGPT também é útil para automatizar os processos de tomada de decisão, analisando dados, identificando padrões e fazendo previsões com base no desempenho passado, o que também beneficia o atendimento ao cliente ao auxiliar usuários a configurar sistemas, solucionar problemas e até mesmo sugerir novas soluções com base em suas preferências e padrões de uso. O próprio site da OpenAI apresenta o case da Yabble, que utiliza os recursos de compreensão de linguagem natural do ChatGPT para tornar os dados mais relevantes e compreensíveis, com tudo sendo feito de questão de minutos. A plataforma também auxilia a companhia a processar perguntas complexas e responder com insights objetivos baseados nos dados relevantes.

Usando as APIs da plataforma e a capacidade de integração com outros aplicativos, como WhatsApp e websites, abre-se uma oportunidade de ganho de tempo operacional para companhias, principalmente as de pequeno e médio porte, com algumas empresas já incorporando o ChatGPT em plataformas de reuniões virtuais para produzir atas automaticamente.

Mas, é claro, o debate ético ao redor dos usos apropriados e a confiabilidade do ChatGPT seguem acalorados. Os testes feitos com a plataforma tiverem pequenos contratempos, mas nada que não possa ser contornado. No próprio site da OpenAI, podemos encontrar uma explicação de que a ferramenta “às vezes, escreve respostas que soam plausíveis, mas incorretas ou sem sentido”. Corrigir isso será “desafiador”, como a própria empresa que a lançou ressalta. O bot, muitas vezes, é excessivamente prolixo e abusa de certas frases, como, por exemplo, reafirmar que é um modelo de linguagem treinado pela OpenAI, atribuindo isso à preferência por respostas mais longas.

Mas isso não é incomum. Ferramentas de IA, ou até mesmo agregadores de busca, tem como padrão utilizar informações que, na verdade, são criadas por pessoas. Por si só, este conceito já apresenta um “problema”, uma vez que uma parcela de indivíduos pensam de forma não ética o tempo todo. Além disso, dada a sofisticação das respostas, fica muito difícil saber se uma determinada frase, música, imagem ou mesmo vídeo foram fruto de ação humana ou gerados por uma IA, o que é um grande problema para educação, direitos autorais, fraudes, disseminação de notícias falsas e para responsabilização pelo uso – ou mau uso – de algum conteúdo.

De forma geral, os usos do ChatGPT são diversos. A plataforma não procura apenas palavras chaves ou conteúdos, mas entende o contexto do diálogo e pode dar sequência a uma conversa anterior sem precisar reescrever tudo, o que facilita o entendimento do contexto geral do que está sendo questionado e possibilita a personalização. Por outro lado, a plataforma depende de interação e conteúdo produzido por humanos para aprender, o que a torna suscetível a erros que seriam facilmente detectados e evitados por um humano com capacidade de pensamento crítico.

*David de Paulo Pereira é analista da TGT Consult e autor de relatórios ISG Provider Lens™ para o mercado brasileiro. É um profissional com experiência executiva comprovada em transformação digital, gestão de equipes, projetos e serviços. Atuou em ambientes complexos, como pós fusão de empresas, estabelecimento de modelos de governança, padronização de métodos e processos de trabalho. Possui grande experiência em ambientes multiculturais adquirida em empresas privadas, públicas, multinacionais e familiares, no Brasil e no exterior.

Suas principais habilidades incluem profundo conhecimento da indústria 4.0: IOT, Nuvem, Big Data, Analytics, RPA, planejamento estratégico, inovação tecnológica, gestão de portfólio e gestão de mudanças. Antes de ingressar na TGT/ISG, ele trabalhou como CIO e CTO para uma empresa de software do Reino Unido, foi Diretor Executivo responsável pela Prática de Transformação de TI na EY, além de atuar como CIO e CTO para empresas globais como Solvay, Jakko Poyry.